Amanhã (10/02), quarta-feira de Cinzas, começa o importante tempo
litúrgico da Quaresma, no qual a Igreja almeja que nos unamos mais intimamente
ao Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo, mistério que inclui sua
Paixão, sua morte e sua gloriosa Ressurreição.
Neste Ano Santo da Misericórdia, o Papa Francisco, em sua
mensagem para esta Quaresma, toma como modelo Nossa Senhora, “Maria, ícone duma
Igreja que evangeliza porque evangelizada. Maria, por ter acolhido a Boa
Notícia que Lhe fora dada pelo arcanjo Gabriel, canta profeticamente, no Magnificat,
a misericórdia com que Deus A predestinou”.
E o Papa nos pede que “a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida
mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia
de Deus (Misericordiӕ Vultus,
17). Com o apelo à escuta da Palavra de Deus e à iniciativa ‘24 horas para o
Senhor’, quis sublinhar a primazia da escuta orante da Palavra, especialmente a
palavra profética. Com efeito, a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo; mas
cada cristão é chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio”.
A História da Salvação é a história da Misericórdia de Deus
para com o seu povo: “O mistério da misericórdia divina desvenda-se no decurso
da história da aliança entre Deus e o seu povo Israel. Na realidade, Deus
mostra-Se sempre rico de misericórdia, pronto em qualquer circunstância a
derramar sobre o seu povo uma ternura e uma compaixão viscerais, sobretudo nos
momentos mais dramáticos quando a infidelidade quebra o vínculo do Pacto e se
requer que a aliança seja ratificada de maneira mais estável na justiça e na
verdade. Encontramo-nos aqui perante um verdadeiro e próprio drama de amor, no
qual Deus desempenha o papel de pai e marido traído, enquanto Israel desempenha
o de filho/filha e esposa infiéis. São precisamente as imagens familiares –
como no caso de Oseias (cf. Os 1-2) – que melhor exprimem até que
ponto Deus quer ligar-Se ao seu povo”.
E tudo se resume e engloba na Encarnação do Verbo: “Este
drama de amor alcança o seu ápice no Filho feito homem. N’Ele, Deus derrama a
sua misericórdia sem limites até ao ponto de fazer d’Ele a Misericórdia
encarnada. Na realidade, Jesus de Nazaré enquanto homem é, para todos os
efeitos, filho de Israel. E é-o ao ponto de encarnar aquela escuta perfeita de
Deus que se exige a cada judeu pelo Shemà, fulcro ainda hoje da aliança de
Deus com Israel: ‘Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único!
Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com
todas as tuas forças’ (Dt 6, 4-5)”.
“Portanto a Quaresma deste Ano Jubilar é um tempo favorável
para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação existencial, graças à
escuta da Palavra e às obras de misericórdia. Se, por meio das obras corporais,
tocamos a carne de Cristo nos irmãos e irmãs necessitados de ser nutridos,
vestidos, alojados, visitados, as obras espirituais tocam mais diretamente o
nosso ser de pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar, admoestar, rezar...”
*Bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianney
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